sábado, 29 de novembro de 2008

Sobre Harry Potter

Claro que ia falar sobre Harry Potter, afinal sou Paty Pondian e isso é o ano 2008, ou seja, um blog sobre livros sem HP seria, como dizia cazuza "café sem açucar, dança sem par" queiram os "entendidos" ou não, gostem de cada linha dos livros, de trechos, ou só dos primeiros, HP foi a força motiz de leitura para toda essa geração e sim, JK tem muito mérito por seus livros serem capazes de despertar essa vontade de ler, de encontrar novos livros e até mesmo de escrever na geração da net.

E as fanfics, isso é fantástico, muitas pessoas estão desenvolvendo sua imaginação e suas habilidades, porque HP lhes deu vontade de escrever, óbvio que nem todo escritor de fanfic tem talento e há muita coisa ruim no universo das fanfics, mas mesmo a pior fanfic já escrita, podem estar certos que trouxe um crescimento pessoal e uma experiência importante para seus idealizadores, fora as fanfics há um material rico, criativo e emocionante, nos fóruns e nas comunidades dedicadas aos livros, discussões produtivas, pessoas aprendendo a argumentar e a respeitar as opiniões contrárias.

Infelizmente há também uma parcela significativa de fãs dessa obra com a mente muito fechada, que não aceitam ouvir qualquer crítica à obra ou a sua autora, ou mesmo que parecem acreditar que os personagens são seres humanos e não personagens sujeitos à interpretação de leitores e por isso tem que ser "defendidos" dos leitores que podem interpretar algo de uma maneira diferente da "única certa" de acordo com a sua crença, isso me lembrou uma bula papal que diz que


"A palavra de Deus não é de livre interpretação"


Significando que as pessoas comuns, eu e você não podemos ler diretamente na bíblia e tirar nossas conclusões, porque poderiamos de alguma forma, nos "iludir" ou tornar-nos "dementes", por isso precisariamos de um padre que leria a palavra de Deus e nos repassaria somente a interpretação correta (ou seja, a dele). Tenho a impressão de que alguns fãs de HP adorariam baixar uma bula papal, segundo a qual, somente eles poderiam ler os livros e nos passar a interpretação correta, e certamente eles também puniriam com a fogueira da santa inquisição, aqueles que descumprissem a ordem, lessem e interpretassem a palavra da "Deusa JK" em desacordo com a posição dominante.

(Exemplo: O incidente com o jornalista Zeca Camargo)


Essas pessoas normalmente não são leitores, não gostam de livros, são leitores de Harry Potter e só conseguem e gostam de ler isso, esclusivamente, enfim, voltarei a tratar de Harry Potter aqui, em outros posts, porque eu gosto dos livros e gosto da escrita da JK mas sinceramente esse "lado negro da força" do fandom de HP já me cansou!!!

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Muito prazer, sou a Patrícia!!!

Estou tão empolgada!!! Agora tenho um blog!! Um espacinho para falar sobre a minha grande paixão, os livros!!! (Nem que seja só comigo mesma, caso ninguém, nunca, comente aqui,kkkkkkkk)Livros, são, talvez até mais que pessoas (exceto algumas raras), o meu grande interesse e fonte de prazer na vida, com livros eu já fui para os mais diversos, lugares, países, mundos, conheci nos livros, alguns dos meus maiores exemplos de vida e posso dizer que fiz grandes amigos (e inimigos também).Reparem bem, não sou nenhuma expert, não sou formada em letras, literatura e nem nada disso, sou apenas uma leitora comum, como a maioria das pessoas, que não repara na técnica de um texto, mas sim na diversão ou no prazer que ele proporciona, esse é meu parâmetro e meu norte, livros são, antes de tudo para os leitores e não para os intelectuais.

Ainda estou aprendendo a mexer com esse negócio de blog e estou postando os livros aos poucos, se alguém ler isso, seja bem vindoe sinta-se a vontade para sugerir livros, mandar arquivos que poderão ser postados aqui e criticar!!!
Sobre Lolita

Vou dar a minha humilde opinião sobre a obra prima do gênio Nabokov, Lolita é um livro unânime para a maioria dos leitores, é belo, é trágico, é de uma humanidade dilacerante, é uma das provas cabais que a literatura é a obra de arte por excelência, um daqueles livros que eu tenho vontade de emoldurar trechos nas minhas paredes. Mas para além do senso comum sobre Lolita, o que mexeu profundamente comigo foi que eu vi...Lolita, eu enxerguei que o HH não era o único a ter sentimentos e a sofrer naquela relação, vi a história pelos olhos dela e não pelos dele, que afinal de contas é o narrador e nos impõe a própria visão dos fatos (como faz Bentinho em Dom Casmurro)a fim de nos seduzir e justificar sua loucura e crueldade: Lolita é uma criança, sem maturidade intelectual ou sexual nenhuma e sem poder de sedução nenhum além do indispensável a um pedófilo (o ser e agir como criança) se tentarmos ler a obra sem confiar cegamente na verdade do HH, poderemos vislumbrar a dor de Lolita, ele mesmo diz em alguns trechos do livro de como ele a chantageava e a amedronatava e de que ("ela não tinha mesmo para onde ir") e sim, ele a amava, doentia e obsessivamente, mas esse amor não a protegeu de nada, ao contrário foi esse amor que a submeteu, enganou e roubou o amadurecimento sexual normal a que ela tinha direito, há diversos trechos no livro que demonstram o desespero daquela criança... o dilaceramento físico quando acontece o ato sexual entre eles, o comportamento totalmente anormal dela na escola (ele até é chamado a dar explicações já que se auto denominava pai dela) a cena em que ela vê relacionamento da amiguinha com o pai e percebe as diferenças deixando uma faca cair sobre seu pé, ele mesmo admite isso no final do livro:
"Houve um dia, na nossa primeira viagem - no nosso primeiro circuito do Paraíso - em que, para gozar os meus fantasmas em paz, decidi firmemente ignorar o que não podia deixar de compreender: que, para ela, não era um namorado, nem um homem sedutor, nem um camarada, nem sequer uma pessoa, e sim, apenas, dois olhos e um palmo de músculo ingurgitado - para mencionar somente as coisas mencionáveis. Houve um dia em que, depois de recusar cumprir a promessa funcional que lhe fizera na véspera (qualquer coisa em que o seu engraçado coraçãozinho tinha empenho - um ringue de patinagem com um piso especial de plástico ou uma matinée a que queria ir sozinha), vi por acaso, da casa de banho, graças a uma ocasional combinação de espelho inclinado e porta entreaberta, uma expressão no seu rosto... uma expressão que não consigo descrever exactamente... uma expressão de tão perfeito desespero que parecia transmutar-se gradualmente noutra de confortável inanidade, precisamente porque fora atingido o próprio limite da injustiça e da frustração - e cada limite pressupõe algo para além dele, daí a compreensão neutra. E, se tiverem em mente que se tratava das sobrancelhas arqueadas e dos lábios entreabertos de uma criança, poderão avaliar melhor os abismos de carnalidade calculada e o pensado desespero que me contiveram e impediram de cair aos seus queridos pés e desfazer-me em lágrimas humanas, e sacrificar o meu ciúme aos prazeres que Lolita esperasse, porventura, encontrar na companhia de crianças sujas e perigosas num mundo exterior que era real para ela.
Mas ainda tenho outras recordações sufocadas, que se desdobram agora em monstros de dor desprovidos de membros. Uma vez, numa rua de Beardsley envolta no poente, ela voltou-se para a pequena Eva Rosen (eu levava as duas ninfitas a um concerto e caminhava atrás delas, mas tão perto que quase lhes podia tocar com o meu corpo), voltou-se para Eva e, muito serena e seriamente, em resposta a qualquer coisa que a outra dissera acerca de ser melhor morrer do que ouvir Milton Pinski, um estudante qualquer que ela conhecia, falar de música, a minha Lolita observou: - Sabes, o que há de tão terrível em morrer é que ficamos completamente entregues a nós próprias. Pensei então, enquanto os meus joelhos de autómato subiam e desciam que não sabia nada a respeito da mentalidade da minha querida e que, possivelmente, atrás dos horríveis clichés juvenis, havia nela um jardim e um crepúsculo, e o portão de um palácio, vagas e adoráveis regiões que me eram lúcida e absolutamente proibidas, nos meus farrapos poluídos e nas minhas miseráveis convulsões. Pois ocorreu-me muitas vezes que, vivendo como vivíamos, ela e eu, num mundo de mal absoluto, ficaríamos estranhamente embaraçados sempre que eu tentasse discutir qualquer coisa que ela e uma amiga mais velha, ela e uma pessoa de família, ela e um namorado autêntico e saudável, eu e Annabel, Lolita e um sublime, purificado, analisado, deificado Harold Haze poderiam discutir-uma ideia abstracta, um quadro, pontilhado Hopkins ou o esbulhado Baudelaire, Deus ou Shakespeare, fosse o que fosse de natureza genuína. Boa vontade! Ela envolvia a sua vulnerabilidade em impudência ordinária e enfado, enquanto eu, utilizando nos meus comentários desesperadamente impessoais um tom de voz artificial que me irritava, provocava na minha interlocutora tais explosões de rudeza que se tornava impossível continuar a conversa. Oh, minha pobre, minha magoada criança! Amava-te. Era um monstro pentápode, mas amava-te. Era desprezível e brutal, era torpe, era tudo, mais je t'aimais, je t'aimais! Ah, e havia ocasiões em que sabia o que sentias, e era um inferno sabê-lo, minha pequenina! Bonita Lolita, corajosa Dolly Schiller. Recordo-me de certos momentos - chamemos-lhes icebergues no Paraíso-em que, depois de me saciar dela-depois de fabulosos e insanos esforços que me deixavam inerte e manchado de azul -,a apertava nos braços com - finalmente - um gemido mudo de humana ternura (a sua pele brilhava à luz de néon do pátio, que entrava pelas fendas da gelosia, as suas pestanas negras estavam coladas umas às outras e os seus graves olhos cinzentos mais vazios do que nunca - era, para todos os efeitos, uma pequena doente ainda confusa da anestesia, depois de uma grande operação), e a ternura transformava-se em vergonha e desespero, e eu embalava a minha solitária e leve Lolita nos braços de mármore, e gemia no seu cabelo quente, e acariciava-a ao acaso, e suplicava-lhe mudamente a bênção, e no auge dessa angustiada e desinteressada ternura humana (com a minha alma veramente a pairar junto do seu corpo nu e pronta a arrepender-se),
de repente, ironicamente, horrivelmente,a luxúria impunha-se de novo - e "oh, não!", gemia Lolita, com um suspiro para o céu, e no momento seguinte a ternura e o paraíso despedaçavam-se."
Mas essa é exatamente a riqueza literária do livro, ser deslumbrante, ter uma estética textual impecável é ser lírico e emocionante sem ser piegas, e mais ainda, ser a prova definitiva da força da literatura, a prova que até o pior dos crimes depende da forma como é descrito e dos sentimentos do narrador acerca dele para fazer parecer ao leitor belo ou horrível e que na nossa voz as dores dos outros podem ficar diluídas nas nossas próprias, o ele era o adulto e ela a criança, ele era o padrasto e ela a orfã, ele era o "lobo mau" e ela a "chapéuzinho vermelho, mas como ele está com a palavra ele nos convence de sua posição de vítima e da culpa da "sedução irresistível" dela, o mais engraçado é que na nossa sociedade Lolita virou mesmo sinônimo de menina cruel e sedutora, Enfim quando eu peguei o livro para ler esperava e estava propensa a encontrar uma ninfa sedutora e maléfica o que eu encontrei foi uma criança abusada se contorcendo de dor!!

Muito Prazer, eu sou Patrícia!